Nos últimos anos, o Brasil era considerado uma economia emergente juntamente com outras de rápido crescimento como China e Índia. Essa era uma percepção compreensível uma vez que o consumo no Brasil estava crescendo a uma taxa tão alta que criaria novas economias dentro de um ano. Pegue por exemplo a indústria de produtos voltados para beleza e cuidados pessoais cujo consumo cresceu à uma taxa média ao ano de 13% entre 2004 e 2014. Em um mercado que movimenta anualmente US$30 bilhões no país, esse nível de crescimento anual adiciona US$2 bilhões dentro do mercado global de beleza. Esse valor é o equivalente de adicionar o consumo anual de produtos de beleza de um país inteiro como a Bélgica a cada ano entre 2004 e 2014. A indústria de alimentos embalados é outro exemplo: o consumo no Brasil adicionou US$4 bilhões ao ano nesse mesmo período. Isso é o equivalente de adicionar anualmente no mercado global o consumo de alimentos embalados do Equador. Portanto, não é surpreendente que o Brasil era percebido pelo mundo como um mercado em crescimento.
Esse cenário, entretanto, vem mudando devido a atual recessão que está se arrastando nos últimos dois anos e meio. Analisando os dados em faturamento em dólar, e considerando tanto a desaceleração econômica quanto a depreciação da moeda, os níveis de consumo na maioria das industrias que a Euromonitor International pesquisa deve retomar aos mesmos níveis de 2014 somente em 2020, incluindo as indústrias de beleza e alimentos. Para as empresas que operam no Brasil, isso foi traduzido em demissões e menor nível de vendas enquanto se ajustavam à nova realidade econômica.
Para as empresas que operam exclusivamente no mercado doméstico, essa é uma oportunidade para começar a olhar oportunidades de crescimento fora do país. Para a maioria das industrias pesquisadas pela Euromonitor International, o Brasil representa somente entre 3% e 4% do mercado global. Comercializar os produtos somente no Brasil significa ignorar os outros 95% do mercado. Além disso, os produtos que são comercializados para certos grupos específicos de consumidores podem encontrar economias maiores e com crescimento mais rápido em outros países da América Latina e do mundo. Para o Brasil, que sempre foi um escravo da atratividade do rápido crescimento interno, o cenário atual torna-se a oportunidade perfeita para começar a olhar o crescimento fora do país.