Não é novidade que a região latino-americana vem passando por mudanças socioeconômicas. Países com relevante atividade turística, como Brasil e México, não têm sido diferentes. Dessa forma, a indústria do turismo na região tem sentido o impacto dessas mudanças, principalmente quanto às transformações na dinâmica do mercado de trabalho.
Observam-se mudanças importantes no estilo de vida das pessoas que estão procurando cada vez mais flexibilidade nas suas relações com o trabalho, em busca de atingirem suas aspirações pessoais. É muito comum ver jovens deixando de lado o sonho do ‘trabalho para a vida inteira’ e optando por tornarem-se seus próprios chefes – seja via empreendedorismo, trabalhos freelancers ou contratos mais curtos.
Essa nova relação com o trabalho traz consigo mudanças importantes para a indústria de turismo como, por exemplo, a duração e número de viagens. Uma vez que os trabalhadores deixam a rotina de trabalho das 9-17h e das férias programadas de 30 dias, eles passam a optar por viagens mais curtas, aproveitando principalmente os feriados. Além disso, com as barreiras entre trabalho e lazer se embaralhando, esses profissionais também devem ter uma voz mais forte nas decisões relacionadas às viagens a trabalho. Um bom exemplo é a busca por acomodações alternativas em detrimento das opções tradicionais, de olho na oportunidade de uma experiência mais personalizada e ‘humana’. Nesse quesito, vemos o crescimento de opções alternativas de hospedagem, que já são uma tendência forte na América do Norte e Europa, mas que na América Latina são ainda algo novo, como os aluguéis de curta temporada. Segundo dados da empresa global de pesquisa de mercado Euromonitor International, espera-se que esses intermediários, como Airbnb, devam dobrar de tamanho em termos de faturamento nos quatro próximos anos, movimentando US$2,2 bilhões até 2020, e se tornar uma alternativa viável aos tradicionais hotéis próximos a distritos financeiros quando o assunto for viagens a negócios.
E a indústria de turismo já está atenta a esse novo, e único, tipo de viajante. Em 2014, Airbnb tomou seus primeiros passos para atrair os turistas viajando a trabalho ao lançar uma plataforma dedicada exclusivamente a eles. Essa plataforma priorizava a listagem de anúncios com as típicas funcionalidades demandadas por quem viaja a negócios, como wi-fi e ferro de passar roupas. Pouco tempo depois, a empresa lançou o Airbnb for Business, uma versão aprimorada dessa plataforma, em que os usuários conseguem fazer suas próprias reservas e têm suas cobranças lançadas diretamente na conta da empresa.
Espera-se, portanto, que os novos valores de vida que vêm sendo trazidos por esse novo perfil de profissionais, que valorizam o elemento humano e a importância da experiência personalizada, mudem a relação dos turistas com as viagens a trabalho. A indústria do turismo deve continuar atenta à essa nova dinâmica para atender às preferências que emergem com o surgimento desse novo perfil de consumidores.