Com o PIB brasileiro programado para alcançar um crescimento de apenas 2,4% em 2013, o que de acordo com a Euromonitor se estima ser a taxa de crescimento mais baixa de todos os BRICs, muitos analistas estão se perguntando se o Brasil merece seu lugar nos mercados BRICs. Eu afirmaria que sim, e que apesar de seus desafios, o país continua sendo foco central para os negócios globais.
Crescimento real do PIB no Brasil, o BRIC e os países emergentes e em desenvolvimento: 2001-2020
Fonte: Euromonitor International de estatísticas nacionais /ONU/FMI
Nota: Dados de 2013-2020 são previsões
A necessidade de um novo rumo de crescimento
Em um passado recente, a economia brasileira tem se beneficiado dos altos preços dos commodities, da demanda chinesa pelas suas exportações e pela explosão do combustível de crédito de consumo. Como esses motores de crescimento mostram que o Brasil claramente está precisando de um novo rumo. Os desafios para a economia são muito reais e os pontos negativos do Brasil são:
- Seu pobre ambiente de negócios. O Brasil está classificado em 130º de 185 países no ranking do Banco Mundial de países como maior facilidade para fazer negócio em 2013, atrás da China e Rússia. Seu ambiente de negócios está caracterizado por um sistema de impostos extremamente complicado e com processos muito burocráticos;
- Fraca infraestrutura. A baixa qualidade da infraestrutura brasileira é notória. A rede ferroviária é inconsistente – os EUA, com área de terreno similar, tem uma rede 7 vezes maior e suas rodovias estão em estado alarmante de reparação – adicionalmente, apenas 14% foram pavimentadas em 2012. Isso se torna um custo adicional para os negócios – tanto em termos financeiros como de tempo. Em 2013, o governo tem agido para melhorar o investimento em infraestrutura e projetos relacionados às Olimpíadas também devem ter algum impacto;
- A Confiança no crédito de consumo como combustível e uma falta de investimento levaram aos desequilíbrios na economia. Os empréstimos de consumo no Brasil superaram os demais países do BRIC em 2012, e a formação bruta de capital fixo, em 18,1% do PIB em 2012, foi o menor de todas as quatro economias. Uma falta de poupança doméstica faz o Brasil ser dependente de entrada de fluxos de capital estrangeiro, o que em tempos de alta volatilidade nos mercados é um risco evidente;
- Por ser uma grande economia, o Brasil não é um grande ator em termos de comércio internacional. Em 2012, ele esteve classificado como o 22º. Maior exportador global, muito atrás da Rússia, Índia e China e representando apenas 7,8% das exportações total do BRIC. Isso indica uma falta de competitividade global, que tem sido particularmente evidente na manufatura;
- Ao longo de muitos mercados emergentes, o Brasil está sofrendo com o câmbio frágil. As moedas depreciadas fazem com que as exportações sejam mais baratas e o Real fraco tem sido um fator que contribui para acelerar o comércio de containers no Brasil, que, de acordo com as informações de Maersk, aumentou em 3,8% no segundo trimestre de 2013 em relação ao trimestre anterior. No entanto, uma moeda fraca também alimenta a inflação ao aumentar os custos de importação. A inflação brasileira espera aumentar a 6,5% em 2013, apesar de ainda estar mais
baixa que a Índia e Rússia, ela é um problema para os responsáveis políticos;
Uma transformação impressionante
Eu diria que apesar dos desafios, a transformação do Brasil com a falta de gestão econômica do passado – com suas seis moedas desde 1970 – passando pela sua abertura ao Investimento Direto
Estrangeiro (IDE), a estabilidade macroeconômica, o baixo índice de desemprego, a inflação sob controle e o rápido crescimento do mercado consumidor é extremamente impressionante.
Os atributos positivos do Brasil líder incluem:
- Escala absoluta – em 2013, ele foi a 7ª maior economia (em termos PPP), tem a 6ª maior população e possui a 5ª maior extensão territorial do mundo. Seu tamanho absoluto já o torna por si só um mercado consumidor interessante. Até mesmo com as despesas de consumo planejadas para crescer em uma média de 4,5% entre 2013 e 2020, o mais baixo dos BRICs, em termos absolutos, isso significa um aumento de U$515 bilhões (em valores de 2012) – o terceiro maior aumento global, acima da Índia e Rússia;
- A classe média tem visto um crescimento fenomenal nos últimos anos. O número de famílias com uma renda disponível acima de U$10.000 (em valores de 2012) cresceu a 27,0% entre 2007 e 2012. Em 2013, se estima que 72,6% das famílias estejam nessa categoria. A nova classe média brasileira oferece oportunidades consideráveis para uma ampla gama de empresas que oferecem bens e serviços que estão agora ao alcance de muitos consumidores previamente pobres;
- Apesar dos protestos recentes, em termos de estabilidade governamental, o Brasil consistentemente desempenha melhor que os demais mercados do BRIC, com uma atuação particularmente boa (para os padrões BRIC) em termos de controle de corrupção e vigência da lei;
Fonte: Transparência Internacional
Nota: Informação se refere à classificação de 176 países.
- Assim como é o lar de 195 milhões de habitantes em 2013, o Brasil tem a maior proporção de trabalhadores adultos e esta proporção tende a crescer em 2020 – em contraposição com a China e Rússia. Espera-se ver uma maior queda no raio de dependência (um raio daquele que não está na idade produtiva em relação aos que estão) em relação aos quatro BRICs durante o mesmo período. Um raio menor de dependência é bom para a economia já que os economicamente ativos pagam mais impostos e tendem a consumir mais e demandar menos do estado em termos de benefícios e gastos com educação e saúde;
- O Brasil também é o lar de uma ampla gama de recursos naturais e é o produtor líder de carne bovina, de aves, sucos de laranja, açúcar, café, grãos de soja, minério de ferro, cobre e etanol.
Descobertas recentes no litoral de reservas de pré-sal poderiam, de acordo com a Administração de Informação Energética, transformar o Brasil no maior produtor de petróleo do mundo;
- Finalmente, o Brasil é o quarto maior receptor de investimento direto estrangeiro em 2012, além de ser o único país entre os quatro maiores países receptor e a ver o IDE aumentar em relação a 2011.
Plano de longo prazo
Como argumentei previamente, qualquer estratégia de mercado emergente é de longo prazo, e se pode esperar que seja caracterizada por altos e baixos. A escala brasileira, a estabilidade comparável, as demografias favoráveis, o tamanho do mercado consumidor e os recursos naturais abundantes combinam para fazer desse país uma das economias mais preeminentes do mundo e por estas razões que sua posição na ordem mundial permanece bem fundada. O governo, ainda e, mais do que nunca, deve agir para aumentar a competitividade global do país, investir na infraestrutura e reduzir a burocracia. A complacência, que era possível senão até desejada durante os anos de expansão, vai trazer outros questionamentos sobre a posição do Brasil entre aqueles que o critica e poderia até fazer pender a balança em favor dos RIC ao invés dos BRIC.