Food and Nutrition Consumers are engaging with food and nutrition like never before. Our in-depth analysis examines the most important implications across the industry, providing market intelligence, original thinking and key insights.

FiSA 2019: Qual o futuro do mercado de orgânicos no Brasil?

9/12/2019
Euromonitor International  Profile Picture
Euromonitor International Bio
Share:

Desde 2003, o mercado de alimentos e bebidas saudáveis no Brasil cresce acima da média mundial em faturamento, mantendo resiliência durante a crise e, até 2023, segundo dados da Euromonitor International, o mercado de alimentos e bebidas orgânicos no Brasil deve crescer a uma taxa média anual de 9% em faturamento (a preços correntes e taxa de câmbio fixa de 2018). Embora ainda muito positiva – especialmente em um cenário incerto de recuperação econômica, esta projeção é inferior à registrada pela categoria no período entre 2013 e 2018 – de mais de 10%.

O consumidor se viu obrigado a repensar certos hábitos de compra perante a renda afetada pelo contexto econômico e a indústria de orgânicos também enfrentou diversos desafios durante o período, debatidos na última edição da feira FiSA 2019 – Food Ingredients South America - na conferência Summit Future of Nutrition.

Crescimento do mercado de orgânicos no Brasil: o objetivo é também o desafio

Atender aos requisitos para obter o Selo Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica não é tarefa fácil – e este é, justamente, o maior gargalo na cadeia produtiva hoje. De acordo com profissionais da indústria que participaram do debate “Desenvolvimento Estratégico da Cadeia Produtiva de Orgânicos e Parcerias na Indústria”, hoje, não é possível encontrar ingredientes orgânicos em escala suficiente para que quaisquer marcas possam fazer a transição para esta cadeia. Isso porque não há oferta garantida dos itens ao longo de todo o ano, por conta da sazonalidade, e também pela necessidade de rotação de culturas para garantir bons níveis de produtividade do solo de orgânicos.

Muito se questiona se a verticalização da produção seria uma alternativa para garantir suprimentos de maneira constante, possibilitando o aumento na oferta de produtos a partir de ingredientes orgânicos, mas esta não seria uma solução isolada: é preciso investir em infraestrutura para garantir que os ingredientes cheguem às linhas de produção em tempo hábil, promover alianças e estabelecimento de cooperativas para negociação de preços e quantidades que beneficiem a cadeia e a indústria e, por fim, a profissionalização dos produtores.

Enquanto em outros segmentos de produtos saudáveis cresce o movimento de fusões e aquisições de marcas menores por grandes grupos, em orgânicos, isso pode gerar uma certa resistência do consumidor. O brasileiro tem uma percepção de que produtos feitos em pequena escala são melhores em termos de qualidade. Assim, uma marca conhecida por ser orgânica poderia perder o seu apelo ao ser adquirida por um grande grupo, de acordo com os participantes. Uma solução seria a busca de recursos por meio de fundos de investimentos, como private equity, de forma que o capital injetado possa ser investido na profissionalização e estruturação da cadeia.

Se o objetivo de aumentar as vendas e a oferta de produtos orgânicos aos consumidores brasileiros parece inatingível devido aos desafios da cadeia de produção, empresas que atuam no mercado local já mostram que é possível desenvolver novas linhas de produto trabalhando junto com os produtores.

Case Nestlé: Leite Ninho Orgânico

Após cerca de três anos de projeto, a Nestlé lança em 2019 a versão orgânica do tradicional Leite Ninho, sendo a primeira marca no Brasil a produzir leite orgânico em larga escala. O desenvolvimento deste produto está alinhado com as principais tendências de consumo globais apresentadas pela empresa na palestra – como a busca por um estilo de vida mais saudável, maior autenticidade dos produtos consumidos e também a busca por experiências inspiradoras e marcas com propósitos.

Bastante alinhado com os desafios na cadeia de produção discutidos ao longo do evento, o case da Nestlé se destaca por fomentar a iniciativa do ponto de vista do produtor. A conversão de uma fazenda tradicional para orgânica leva cerca de 18 meses, tornando o processo muitas vezes inviável financeiramente para o pequeno produtor. Além disso, todo o gado deve ser alimentado com pastagens sem o uso de agrotóxicos ou adubos químicos, não é permitido o uso de grãos transgênicos e o gado não pode estar confinado. Estes critérios são fundamentais pois, como não existe um teste específico para saber se o leite é orgânico, apenas conformidade da cadeia de produção pode atestar a qualidade do alimento. Assim, temas como rastreabilidade passam a ser uma prioridade.

Para incentivar a migração dos pequenos produtores e mantê-los na base de fornecedores da Nestlé, a empresa está comprando leite de uma rede de 35 produtores já a preços de orgânicos (cerca de 70 a 80% acima do preço por litro normal) desde o ingresso no programa de migração, por meio de um contrato antecipado com o compromisso de fornecimento ao final do processo de conversão da fazenda. De acordo com a empresa, esse sistema é fundamental para que o produtor possa fazer a migração da produção de maneira sustentável e com qualidade, sem perder sua capacidade comercial. Este compromisso é visto pela cadeia de orgânicos como uma estratégia importante no fomento do mercado e como estímulo para que mais produtores façam a conversão.

Até que se atinja um patamar de produção de ingredientes orgânicos em grande escala, é esperado que os custos sejam repassados ao consumidor final, resultando em um produto pelo menos 50% mais caro. Com uma comunicação mais clara sobre o que é um produto orgânico e tudo o que está por trás da produção até o consumidor final, a diferença de preço pode se tornar mais justificável – uma vez que grande parte dos brasileiros ainda acredita que “orgânico” é simplesmente “natural” e, portanto, não devia custar mais caro.

As discussões sobre os desafios e oportunidades para orgânicos no Brasil -  missão cumprida com excelência, mais uma vez, pela FiSA 2019 - indicaram que já existe uma demanda crescente pelo produto, mas que dois grandes pilares precisam ser trabalhados de maneira intensiva para que o mercado avance: a profissionalização e estruturação da cadeia de produção e também a comunicação com o consumidor final.

Interested in more insights? Subscribe to our content

Explore More

Shop Our Reports

Dairy Products and Alternatives: Half-Year Update H1 2024

This half-year review of Euromonitor International’s Dairy Products and Alternatives data provides analysis of the biannual update to Euromonitor’s Forecast…

View Report

Inflation in Packaged Foods: Causes and Implications of Price Growth

Global packaged food sales are set to exceed USD3 trillion in 2024, with volumes growing over the forecast period. Even with inflationary pressures moderating,…

View Report

Future of Consumption: Unlocking Gen Z Behaviour for Crafting Powerful Strategies

Generation Z, comprising one-fifth of the global population, is poised to wield significant consumer influence. However, their polarized behaviours toward…

View Report
Passport Our premier global market research database with detailed data and analysis on industries, companies, economies and consumers. Track existing and future opportunities to support critical decision-making across all functions within your organisation Learn More
;